A Noite com o belo luar da lua cheia, servia de inspiração para qualquer nosferatu. A madrugada se faria em pouco, sobre uma cova aberta recentemente, uma figura vestida da noite faz seus dizeres de libertação, em seguida laçou uma garrafa de sangue e agua ardente sobre o corpo que jazia na cova. A garrafa lançada sobre o peito do cadáver derramava algumas gotas em sua boca gélida, a figura que a jogara já se desfizera nas sombras.
Subitamente o cadáver desperta, abrindo seus olhos vermelhos pela noite, ergue suas costas, em meio a um urro rouco “Lo ti ammazzo Gabriel! ”. O corpo alvo de cabelos negros, com as roupas já degradadas pelos vermes, se levanta do caixão de prata se retorcendo, sobe ao plano da superfície carregando a garrafa. Ao fazer-se de pé, Vito, o morto, sente uma forte dor no coração, ao conferir encontra uma marca alquimica tatuada no meio do peito.
De pé, caminha fadigado até a saída do cemitério. Em sua melancólica caminhada, avista um jornal na sarjeta. Ao recolher-o, datava de 2012, solta o jornal e agoniza“ Cinquenta e quatro anos? Fiquei preso por cinquenta e quatro anos!?”.
Vito Cazzarini o nosferatu, foi contaminado no ano de 1917, na época, com seus 19 anos de idade, migrava junto à seu pai para o Brasil, fugindo de uma máfia na Itália. O navio foi invadido por um nosferatu, uma mulher, conhecida pelos outros de sua raça como “A Dama Sangrenta”, após mutilar muitos tripulantes, contaminou apenas Vito. Havia se casado a pouco, sua esposa havia chegado no Brasil em outra navegação, cerca de um mês antes do marido.
Junta à aurora uma fina chuva caía, Vito, repleto de rancor, vagava pelos becos tão familiares, à caminho de sua antiga casa. Pessoas iam e vinham, ignoravam Vito, era só mais um mendigo. Vito chega ao seu destino, era uma oficina, antes abandonada, agora um ferro velho em funcionamento. Sentindo-se inútil perante a situação, procurou abrigo em um beco, sentou-se atrás de uma lata de lixo. Observou a garrafa em sua mão, tragou-a em um gole e resmungou “Este foi sem duvidas o pior sangue de virgem que já provei.” deixou a garrafa de lado e continuou consigo “Preciso de mais sangue, estou fraco, qualquer misera gota de sangue fresco.”.
Enquanto Vito descansa um grupo de baderneiros adolescentes se aproximam“Olha só esse cara! Mór arrebentado já, tem grana aí ‘mermão’? ” O nosferatu sedento por sangue sorri, se levanta em um piscar de olhos e segura o pescoço do jovem. Os outros do grupo se vão covardemente. Com suas unhas afiadas, Vito perfura o abdome do baderneiro, logo em seguida rasga a artéria do pescoço e bebe o sangue que jorra. “Não é do mais puro sangue, mas é fresco, sinto minhas forças novamente!”.
As garras sujas de sangue, escondem a vítima no cesto de lixo. Uma voz corta o silencio.
-Vito, Vito, Vito, não soube se conter.- O nosferato permanece imóvel e retruca.
- O que mais queres de mim? Me aprisionou por 54 anos, e me libertou para se vangloriar, traidor!- O homem se aproxima e põe suas mãos nos ombros ensanguentados de Vito.
-Acalme-se velho amigo, quero lhe pedir ajuda, e estou arrependido do que fiz, mas era necessário -. O receptor interrompe arrancando as mãos “amigas”.
-Saia! Trabalhávamos juntos para conseguir a pedra, e quando estávamos prestes a consegui-la, você se afogou em seu egoísmo e roubou-a para si!
Gabriel, baixou a cabeça e se moveu em círculos, pensativo. Arriscou alguns pigarros, desistiu e abriu a mochila que carregava.
-Vito, aqui, algumas roupas novas, temo que te levem à algum abrigo.- Diz sem jeito, entregando-lhe roupas.
Vito aceita o presente do antigo companheiro e limpa o sangue que escorre de sua boca, olha para baixo, se vê desnorteado física e pisicologicamente. Pronuncia serenamente:
-Conte-me logo a historia da pedra.
GLOSSARIO
Nosferatu - Vampiro
Lo ti ammazzo - “Eu te mato” em italiano
